“No meio do rim havia uma pedra. Havia uma pedra no meio do rim”. Se Carlos Drummond de Andrade fosse médico, certamente descreveria assim o cálculo renal. Mas é isso mesmo, o cálculo renal, conforme a palavra, é uma pedra mesmo, uma cristalização de alguns elementos que as pessoas têm na urina, como cálcio, oxalato de cálcio, entre outros.
Quem fala sobre o cálculo renal, que hoje afeta, de acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, um em cada dez habitantes do Brasil, é o doutor Cassiano Barbosa, urologista e cirurgião-geral, em entrevista ao Jornal A Saúde esta semana: “Eles [os cálculos] se formam desde pequenos núcleos de cristais até formarem realmente uma pedra grande, ocupando todo o rim. Então, o cálculo renal é conhecido como pedra nos rins”.
A principal causa do cálculo renal, afirma Cassiano Barbosa, é uma causa hereditária, genética. “É uma quantidade de cálcio maior presente na urina. É uma causa hereditária, se chama hipercalciúria idiopática, que é uma maior eliminação de cálcio na urina. E esses cálcios acabam se agrupando e formando esse cálculo. Ouras causas menos comuns são: o excesso de ácido úrico e infecções recorrentes que também podem causar o cálculo renal”, detalha o médico.
Indagado sobre se algum tipo de alimento pode causar o cálculo renal, o doutor Cassiano diz que são poucos. “Em alguns casos, o excesso de ácido úrico na alimentação pode favorecer pessoas que tenham uma certa predisposição ao cálculo de ácido úrico e ao cálculo de cálcio, mas apenas quem tem algum distúrbio metabólico”, responde.
O médico explica ainda que esse excesso de cálcio poderia causar o cálculo, mas, a alimentação em si não influencia tanto quanto a hereditariedade. De qualquer forma, algumas coisas, como o excesso de sal na comida, podem também deixar a urina um pouco mais saturada, com cristais. “A baixa ingestão de líquidos também pode causar essa saturação da urina e a formação desses cristais ou da pedra”, alerta.
Quem tem pedra no rim ou nos rins pode até não sentir nada, o cálculo pode ser assintomático, mas os que sentem aquela famosa cólica renal nem sabem como descrevê-la, tamanho o sofrimento pelo qual passam: “É uma dor muito intensa, o paciente praticamente rola no chão, de dor com forte intensidade, que vem das costas e pode ir para frente, para o pé da barriga, e ainda associada a vômito. É uma dor muito intensa que não melhora com nenhuma posição”, descreve.
Qual o tratamento para pedra no rim?
Doutor Cassiano diz que o tratamento do paciente com pedra no rim primeiro é à base de um analgésico, para debelar a dor, e também de um antiemético, para evitar vômito. E aí o médico pode avaliar, dependendo do tamanho e da posição do cálculo o tratamento, que pode ser cirúrgico, com a retirada, pelo canal da urina, chamada de terapia, endoscópica, com o emprego de um cateter.
“Esse cateter vai pelo canal da urina, pela bexiga, pelo ureter e até no rim e pode tirar essa pedra com laser, fragmentá-la e tirá-la. Ou pode ser retirado em cirurgias chamadas abertas, o médico faz o corte, retira o cálculo e fecha”.
Sobre se a infecção urinária frequente pode causar o cálculo renal, o médico diz que existe um cálculo em especial, que é o coraliforme, ou desprovita, que está associado à infecção urinária crônica, “uma infecção persistente, que nunca acaba”. “É um cálculo grande e que não apresenta sintoma, o único sintoma é infecção urinária, não há dor intensa, tem um caráter mais insidioso”.
E se o cálculo não for tratado? Bem, aí vai depender muito do tamanho dele e da localização. “Um cálculo não tratado pode provocar no paciente cólicas renais frequentes, com ele sempre indo ao pronto-socorro para eliminar a dor. Também pode causar uma deterioração do rim, se obstruir o canal urinário, o ureter, se obstruir o rim, pode levar até a perda desse rim ou dos rins, causando uma insuficiência renal. É raro deixar chegar a esse nível, mas ele pode danificar bastante o rim, adverte Cassiano Barbosa. (Entrevista concedida ao Repórter Cláudio Reis)
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