Esquizofrenia: O que se sabe sobre esse distúrbio psiquiátrico?

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De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), 23 milhões de pessoas no mundo são portadoras de esquizofrenia. Somente no Brasil, dois milhões de pacientes apresentam esse distúrbio. Alguns sintomas dessa doença mental grave, que altera a maneira como a pessoa sente, pensa e se comporta, são alucinações, delírios, problemas de raciocínio e concentração, e falta de motivação. Para falar sobre esquizofrenia, o Jornal A Saúde entrevistou o psiquiatra José Walter Lima de Prado, que detalhou tudo sobre esse distúrbio mental. Leia a seguir, a entrevista, na íntegra:

Jornal A Saúde – O que é esquizofrenia?

Dr. José Walter Lima de Prado – É uma doença psiquiátrica que está englobada nas síndromes psicóticas. A principal característica da esquizofrenia é uma alteração do juízo da realidade. Ou seja, a pessoa perde a consciência, perde a noção do que é real e do que não é real. É uma doença extremamente grave porque é crônica. Uma vez feito o diagnóstico de esquizofrenia, esse diagnóstico vai acompanhar o paciente para sempre. Ou seja, uma doença que não tem cura, assim como hipertensão, diabetes… Talvez o principal ponto a ser falado é o impacto social que ela causa, já que é uma doença muitas vezes incapacitante.

A Saúde – Quais os principais sintomas?

Dr. José Walter – Talvez o sintoma chave, o principal, seja alucinações e delírios. Ou seja, a pessoa tem uma falsa crença da realidade. Ela pode escutar vozes, ver vultos, pode ter delírio, ela tem um comportamento desorganizado, um pensamento desorganizado, tudo isso associado a um comportamento estranho. Muitas vezes saem andando pela rua. Agem com agressividade, agitação, mas talvez o principal sintoma seja o delírio, essa alteração no juízo de realidade. Não saber o que é real e o que é fictício.

A Saúde – A esquizofrenia pode ser hereditária?  

Dr. José Walter – As doenças psiquiátricas em geral têm um componente hereditário e a esquizofrenia também tem. Se o pai ou a mãe tem esquizofrenia, o filho tem grande chance de ser esquizofrênico. Assim como ter pressão, transtorno bipolar. Então, o componente genético nas doenças psiquiátricas é muito importante. Se os pais têm esquizofrenia, o filho tem chance também de ter.

A Saúde – Hoje, quais os tratamentos para esse distúrbio?

Dr. José Walter – O principal pilar do tratamento da esquizofrenia é com medicação, os antipsicóticos, as medicações que vão atuar no controle dos delírios, alucinações, no controle do comportamento, na agitação, na agressividade. Basicamente, usamos antipsicóticos, que é uma classe de medicação desenvolvida para o tratamento da esquizofrenia. Porém, associada a isso, outras medicações, porque o paciente associado a isso tem insônia, então tem de tratar a insônia. Tem o que seria embotamento afetivo, que seria um quadro semelhante à depressão. A gente tem de tratar esse paciente além do tratamento psicótico, com antidepressivo. Às vezes, tem de tratar a ansiedade também. Associado à medicação à psicoterapia, às vezes o paciente, além de fazer acompanhamento com psiquiatra, tem de fazer com psicólogo.A esquizofrenia não tem cura

A Saúde – Então, a esquizofrenia não tem cura?

Dr. José Walter – Não tem cura. No gene da esquizofrenia há vários fatores envolvidos. O fator genético é importante. O uso de drogas também pode desencadear a esquizofrenia. Drogas como a maconha, uma droga que pode predispor o desenvolvimento da esquizofrenia. Fora isso, há alguns gatilhos, traumas, tudo isso pode ser gatilho para desenvolver surto psicótico e, consequentemente, esse surto ser decorrente da esquizofrenia. O que é importante falar, é que a incidência na população geral, está em torno de meio por cento. É uma doença com uma incidência frequente. Se formos considerar em números absolutos, meio por cento da população é relevante. Ela acontece igual em homens e mulheres. Um ponto chave é a idade de início dos sintomas, que nos homens é entre 15 e 20 anos, e nas mulheres entre 20 e 25 anos. As pessoas que desenvolvem esquizofrenia, a desenvolvem numa fase fundamental da vida. O impacto social da esquizofrenia é muito grande. Uma pessoa que está começando a fazer faculdade ou trabalhar, muitas vezes se torna uma pessoa com dificuldade de manter essas relações pessoais e profissionais. Estudar impacta no trabalho, porque não consegue trabalhar, então tem repercussão social muito grande.

Quem sofre de esquizofrenia pode levar uma vida normal

A Saúde – O esquizofrênico pode vir a ter uma vida normal?

Dr. José Walter – Sim, a pessoa pode levar uma vida normal, a doença não tem cura, mas tem controle. Acompanhada adequadamente, ela pode fazer faculdade, arrumar um bom emprego, pode casar, tem filhos e não necessariamente os filhos terão esquizofrenia, mas com o acompanhamento correto, quanto psicológico, o que a gente chama de psicoeducação. E o que é isso? O paciente que sabe que tem a doença, que precisa tratar, e, diante dos primeiros sintomas, já procura o médico para fazer um pequeno ajuste na dose, para ele não surtar. Então, muitas vezes o paciente que é orientado e sabe da importância do acompanhamento, começou a ter um comportamento estranho, mais agitado, mais agressivo, começou a ouvir alguma coisa, achar que as pessoas estão atrás dele, vai no médico. A gente ajusta a dose da medicação e volta ao normal. A maioria das pessoas consegue ter uma vida normal. Eu acho que o principal é isso. Mesmo sendo uma das principais doenças psiquiátricas, uma das mais importantes, porque é uma doença que pode gerar uma incapacidade muito grande, o ônus social é muito grande para a pessoa. Hoje a gente sabe que o estigma da saúde mental está presente. A maioria das pessoas tem o preconceito, tem o estigma de ir ao psiquiátrica, “ah eu não estou maluco”, mas é justamente para não agravar doença e ter um surto psicótico que a gente precisa tratar. Falar de saúde mental é extremamente importante para tirar esse estigma, o preconceito, e fazer com que as pessoas procurem o mais breve possível a evitar uma internação e diminuir o risco de suicídio, o acompanhamento é importante.

A Saúde- Existe um índice de tragédias envolvendo pessoas portadoras de esquizofrenia?

Dr. José Walter – A pessoa em surto psicótico faz uma ruptura com a realidade. Ou seja, ela não sabe se é real, se aquilo está realmente acontecendo ou não. Muitas vezes pode ter algum delírio com uma pessoa próxima da família, achar que a está perseguindo, que vai fazer mal e, num ato, de se defender, pode acontecer a agressividade, chegar a cometer violência com uma pessoa próxima. (Entrevista concedida ao repórter Cláudio Reis)

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