Aids: Barreiras e estigmas ainda precisam ser derrubados

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Neste dia 1º de dezembro transcorre o Dia Mundial de Combate à Aids. De 1983 para cá, ano em que foi divulgado o primeiro boletim epidemiológico emitido no Brasil com diagnóstico de caso de HIV, avançou-se muito em termos de prevenção, tratamento, testes rápidos e campanhas.

Porém, ainda há estigmas e barreiras do preconceito que precisam ser desconstruídas. O site A Saúde conversou sobre o tema com o médico infectologista Harbi Amjad Nabih Othman, que atua no Serviço de Atendimento Especializado / Centro de Testagem e Aconselhamento – SAE/CTA, em Marabá. Ele afirmou que atualmente há pacientes com HIV em tratamento, com a expectativa de vida de até 70 anos, sem qualquer outro problema associado.

O infectologista destaca que é necessário distinguir que nem todo mundo que é portador do vírus HIV- Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH ou HIV, do inglês Human Immunodeficiency Virus), possui Aids.

Logo, uma pessoa que descobre o HIV vai conviver com o vírus, porém, se receber o tratamento adequado ela não evolui para Aids. Já, quem tem a Aids, apresenta sinais e sintomas ou infecções oportunistas, neoplasias, alguns tipos de câncer, que acontece quando a imunidade da pessoa está num nível muito baixo, em consequência do longo tempo de doença sem tratamento do HIV.

Harbi Amjad Nabih Othman fala sobre a Aida
O infectologista Harbi Amjad Nabih Othman fala sobre o progresso e o estágio atual do tratamento do HIV/Aids

Meta é que nenhum soropositivo desenvolva a Aids

“Em média, isso leva numa pessoa sem tratamento da doença de oito a dez anos, para poder apresentar esse quadro de Aids. Por exemplo, uma pessoa que começa a apresentar formas graves de tuberculose, como tuberculose encefálica, toxoplasmose cerebral e candidíase esofágica, essas são algumas doenças definidoras da Aids.

A meta inclusive é que nenhuma pessoa que tenha HIV tenha Aids, por isso a importância do tratamento”, frisa Harbi Othman, complementando que há alguns tipos de neoplasias (tumores), linfomas e ainda alguns tipos de câncer do útero, uma doença chamada Sarcoma de Kaposi, doenças estas que definem a Aids em pacientes com HIV sem tratamento.

O médico lembra que há várias razões para pessoas que estão sem tratamento ao redor do mundo. Sendo uma delas o acesso ao diagnóstico, em vários locais do mundo os testes para HIV são quase inexistentes e ainda as pessoas não são estimuladas a procurar atendimentos ou quando procuram não têm o recurso disponível para diagnóstico.

No Brasil, o SUS facilita o tratamento contra a Aids

“Outra questão é a disponibilidade para tratamento, muitos países não oferecem um Sistema Único de Saúde gratuito, igual no Brasil, então o acesso a esses fármacos é mais difícil. Outro contexto é a própria posição do paciente. Infelizmente, nem todos aceitam o tratamento, mesmo na forma inicial. Isso melhorou muito, a aceitação agora é melhor”, avalia o infectologista.

Em 2014, o Unaids que é o braço da ONU (Organização das Nações Unidas), criado em 1996 e que tem a função de criar soluções e ajudar nações no combate à Aids, estipulou três metas para o mundo, para se chegar a 2020. A primeira delas seriam que pelo menos 90% das pessoas com HIV no mundo, soubessem que tem HIV.

Dessas, 90% tivessem acesso ao tratamento e dessas com tratamento pelo menos também 90% tivessem um tratamento eficaz com carga viral indetectável, ou seja, não ter mais vírus circulando no sangue, com tratamento efetivo, o chamado programa 90-90-90.

A meta para 2020, que contribui no enfrentamento da epidemia, o Brasil não conseguiu cumprir plenamente. O País chegou perto da primeira, mas não atingiu; ficou mais longe da segunda; e atingiu a terceira. Ou seja, das pessoas que têm o diagnóstico e estão tratando tem supressão viral.

Coquetel deu lugar a tratamento simplificado

Entretanto, o infectologista lembra que o Brasil ao longo dos anos, sempre foi referência mundial em tratamento de HIV/Aids. “Hoje em dia quem tem o vírus é muito diferente de alguém que tinha há alguns anos, principalmente nos anos 1990″, destaca ele.

Antes, era basicamente uma sentença de morte para o paciente. Quando se podia tratar, o acesso era muito difícil ao tratamento, não existia drogas efetivas que pudessem manter o paciente estável, as vezes o próprio efeito do medicamento acabava trazendo mais problemas para o paciente. “Atrapalhando a qualidade de vida do paciente, sem melhorar sobremaneira a expectativa de vida. Hoje é muito diferente”, frisa o médico.

O tratamento para o vírus HIV, antes era conhecido como coquetel, em função da quantidade de comprimidos que o paciente precisava tomar diariamente. Os pacientes que faziam do tratamento, faziam de forma irregular e acabavam abandonando. Às vezes, não por desejar o abandono, mas por não tolerarem o uso dos medicamentos que existiam, além da grande quantidade deles.

Hoje em dia, o esquema priorizado para uma pessoa que recebe o diagnóstico de HIV são dois comprimidos diários, um tratamento simplificado. A quantidade de efeitos colaterais é mínima, a maioria dos pacientes não tem nenhum efeito adverso associado às medicações, e quando manifesta alguma reação é muito leve e facilmente contornável.

Expectativa de vida aumentou e hoje é de 60 a 70 anos

“Caso a medicação seja intolerável, o que não é comum, a gente tem um leque de opções muito maiores e com poucos efeitos adversos. O tratamento além de ser com menor número de comprimidos é altamente potente, eficaz, que a gente consegue manter ao longo do tempo e amplamente acessível pelo SUS, trata-se de medicamentos dispensados unicamente pelo SUS. No Brasil, a pessoa não consegue comprar em farmácia”, ressalta Harbi Othman.

Para o infectologista, a expectativa de vida hoje, de alguém que faz o tratamento, é igual à de alguém que não tem o vírus. “A gente tem paciente cada vez mais com idade mais avançada com 60, 70 anos, vivendo normalmente sem qualquer outro problema associado, com o tratamento relativamente simples e acompanhamento periódico, o que é muito factível”, detalha.

Harbi Othman adverte que o Brasil às vezes peca, pois foca muito no preservativo e não numa abordagem mais completa e complexa. “Faltam campanhas mais impactantes, se referindo às opções de tratamento, à importância do diagnóstico. As pessoas têm de entender a importância do teste, que é disponível. É rápido, e quem, porventura, tiver o diagnóstico do vírus, tem uma equipe multidisciplinar com completo sigilo”, explica ele.

Há medicamentos que funcionam como profilaxia pré-exposição, que existem em Marabá pelo CTA, utilizadas em profissões de risco, como profissionais do sexo, homem que faz sexo com homem, casal soro discordante (quando apenas um tem o vírus), existem medicamentos que diminuem a contaminação do parceiro. “Quando rompe preservativo ou quando funcionário da saúde se fura com agulha, há medicamentos nas primeiras 72 horas que diminuem os riscos de transmissão da doença. Há também a profilaxia pós exposição. Infelizmente, não existem muitas campanhas sobre o assunto”, afirma o médico, acrescentando os programas de redução de danos, como uso de seringas descartáveis.

Muitas vezes o paciente teme procurar o tratamento e receber um resultado positivo, com medo de que seja divulgado ou pelo estigma social que existe. Mas, no CTA é possível fazer o teste em alguns minutos e ainda no mesmo dia iniciar o tratamento. “Importante que as pessoas que têm o vírus saibam da qualidade de vida que podem levar, com o tratamento e de quão ruim pode ser se a pessoa que sabe do vírus não se tratar, mesmo para ela, ou para sociedade como um todo, porque não conseguimos quebrar o ciclo de transmissão”, alerta o médico infectologista. (Emilly Coelho)

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