Sem sensacionalismo: Vamos falar sobre suicídio? Sim, vamos!

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O assunto é espinhoso e, caso seja tratado de forma sensacionalista, pode ser contraproducente. Mas é preciso debater sobre o suicídio, sim! Suas motivações, seu tratamento e toda a empatia que deve cercar as pessoas que apresentam sinais, ainda que silenciosos, de algum transtorno que pode levá-las a tirar a própria vida.

No Brasil, são registrados 12 mil suicídios por ano, de acordo com dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Isso dá uma média de mil suicídios por mês, o equivalente a mais de 30 por dia, mais de um por hora. Os números são preocupantes. E não é só isso.

Desse total, 96% dos casos estão relacionados com a presença e o desenvolvimento de algum transtorno mental. Quem adverte é a psicóloga Fabrícia Ferraz. A profissional explica que a família precisa estar ao lado das pessoas que sentem essa dor tão forte; das pessoas que têm pensamentos suicidas, que cometem lesões em si para aliviar a dor de um transtorno mental.

Segundo ela, é preciso acolher e ouvi-las sem julgamento e sem usar jargões do senso comum, como dizer que é “falta de Deus, frescura, ou querer chamar atenção”. “Isso são julgamentos que prejudicam e fazem com que a pessoa se sinta ainda mais estigmatizada”, resume a psicóloga.

Ainda de acordo com ela, os amigos e familiares devem encorajar a pessoa que passa pelo sofrimento a buscar um atendimento médico, procurar um profissional para indicar um tratamento psicológico, ou instituições como Centro de Valorização da Vida (CVV) e Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).

Os sinais não são evidentes

Ainda de acordo com Fabrícia Ferraz, os sinais apresentados por alguém que sofre de transtornos que podem levar alguém ao suicídio são, via de regra, silenciosos. Por isso, é preciso estar atento a sintomas como isolamento social, ansiedade, depressão, desânimo.

“A pessoa começa a não sentir mais vontade de exercer vontades que antes exercia; a pessoa se sente muito cobrada porque a sociedade hoje valoriza as pessoas muito produtivas, que estão sempre pra cima, de modo que quando a pessoa não dá esses resultados, ela se sente sufocada e acaba vendo o suicídio ou a auto lesão como saída para aliviar esse sentimento de impotência”, resume a psicóloga.

Ferraz adverte ainda que o ritmo que as pessoas estão levando hoje em dia impede que elas prestem atenção em si, para ver questões emocionais e de saúde mental. “Às vezes é preciso desacelerar para prestar atenção no autocuidado”, resume.

Afora isso, há outro problema também: a dificuldade de assumir suas fraquezas, o que faz as pessoas se fecharem e sofrerem solitariamente. “Existe um estigma muito forte que impede a pessoa de falar sobre suas vulnerabilidades, seu sofrimento, que precisa de ajuda”, detalha, ao explicar que nós somos ensinados a ser fortes, a dar conta de tudo, então é difícil para a pessoa aceitar que não está dando conta e buscar uma ajuda.

Fabrícia Ferraz fala sobre suicídio
Fabrícia Ferraz diz que é preciso ter empatia para ajudar pessoas em sofrimento

Causas do suicídio

Questionada sobre quais as possíveis causas para essa tendência, a psicóloga explicou que existe o transtorno do estresse pós traumático, algo que aumentou muito durante a pandemia. Além disso, o aumento do desemprego é um fator de risco para o pensamento suicida. “Isso está ligado à dificuldade financeira”, resume.

Em Marabá

Muitos casos de suicídio e tentativa têm sido registrados em Marabá, mas, por uma questão de ética jornalística, essas situações são divulgadas de forma velada, justamente para não disparar gatilhos em pessoas que sofrem algum transtorno que pode levar ao suicídio.

O perfil em Marabá entre as pessoas que deram fim à própria vida é muito difuso. De pré-adolescentes a idosos, os casos não são poucos. Pais, mães, avós; profissionais formados, desempregados; gente estabilizada financeiramente. Não há como identificar um grupo mais propenso ao suicídio.

Vários suicidas procuram a ponte do Itacaiúnas para se atirar dela
Ponte do Rio Itacaiúnas tem sido palco de várias tentativas de suicídio em Marabá

Há também um fenômeno muito específico na cidade: a grande quantidade de tentativas de suicídio na ponte do Rio Itacaiúnas. Aliado a isso, há outro fato preocupante: a divulgação dessas situações por meio das redes sociais.

Para o psiquiatra Hermes Mariano, que atua no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), em Marabá, as imagens que circulam cada vez mais rápido pela Internet, mostrando tentativas de suicídio da ponte, podem produzir um efeito de repetição.

Caps ajuda pessoas que pensam em suicídio
Ajuda especializada ajuda a lidar com pensamentos suicidas e de automutilação

Suicídio entre os jovens no Brasil

De acordo com dados coletados pela empresa de seguros Insurtech Brasileira Azos, entre brasileiros de 11 a 20 anos, houve um aumento de casos de 49,6% entre 2014 e 2019. Mas a maior incidência de mortes por suicídio está na faixa etária que vai de 21 a 30 anos.

Essa tendência de alta entre jovens já havia sido constatada em um estudo feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em pesquisa publicada no ano de 2019. O Estudo revelou que houve um aumento de 24% nos casos entre 2006 e 2015, com maior frequência entre jovens do sexo masculino. (Colaboração do Jornalista Chagas Filho. Imagem destacada: TJBA)

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