Narcisismo pode adoecer relações afetivas, afirma psicóloga

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O Transtorno de Personalidade Narcisista recebeu esse nome baseado no mito grego que conta a história de Narciso. Segundo a mitologia, ele era um caçador muito bonito que, após recusar todas as suas pretendentes, se apaixonou por si mesmo, depois de ver o próprio reflexo na água e morreu afogado.

Segundo a psicóloga e neurocientista Bruna Tomazetti, o narcisismo, assim como outros transtornos de personalidades, tem relação com o funcionamento cerebral de como o indivíduo enxerga a vida.

Ao Portal A Saúde, Tomazetti explicou que esse transtorno altera a imagem que a pessoa tem de si e provoca comportamentos de grandiosidade. “Indivíduos narcisistas têm uma ideia de ser ‘super’ em tudo. Superbonitos, supereducados, superintelectuais, supersexuais. E como se Deus fizesse uma dosagem maior sobre essas pessoas”, descreve a psicóloga.

Questionada sobre como o transtorno se desenvolve nas pessoas, a especialista explicou que o indivíduo pode nascer com esse funcionamento cerebral ou desenvolver através do contexto social.

Segundo ela, traumas também podem desenvolver características similares ao do transtorno. “Quando um indivíduo presencia algo que o traumatiza, ele pode desenvolver mecanismos de defesas para se sentir mais confortável no mundo, através da autoproteção, tendo características parecidas com o narcisismo”, ressalta Bruna Tomazetti.

Narcisismo pode adoecer relações afetivas
Bruna Tomazetti, psicóloga e neurocientista: “Indivíduos narcisistas têm uma ideia de ser ‘super’ em tudo”

Narcisismo no casamento

Nas relações amorosas, a especialista relatou que a superioridade dos narcisistas adoece os relacionamentos, pois colocam seus parceiros como seus fãs. “O narcisista se relaciona com as outras pessoas com o objetivo de ser aplaudido e admirado. Seus parceiros são considerados fãs. Ele tem gozo em ser reconhecido e adorado todo o tempo”, afirma.

A maquiadora, Joana (nome fictício para preservar a identidade da fonte), que viveu um relacionamento de 15 anos com um companheiro narcisista, relata que desenvolveu vários problemas psicológicos e emocionais, como pensamentos suicidas, depressão e ansiedade.

“Quem via de fora o nosso relacionamento achava que era o paraíso, porque o meu ex aparentava para as outras pessoas ser muito educado, atraente, sedutor, parecia o homem perfeito. Mas só eu sabia o inferno que era a nossa convivência”, conta Joana.

Segundo Bruna, como o narcisista tem uma visão de superioridade, ele acredita que o parceiro é obrigado a pagar para ter sua companhia. “Uma das características de pessoas com esse transtorno é achar que ele é tão maravilhoso que o parceiro precisa pagar toda a logística, como jantar, viagem, lanches e outras coisas, só para ter ele por perto”.

“Com esses comportamentos narcisistas, o narciso acaba desenvolvendo no parceiro um sentimento de anulação, como se ele não existisse na relação. Com isso, o parceiro do narcisista vai tendo a autoestima diminuída, porque se sente ‘nada’ perto de alguém que se acha ‘tudo’ e isso o frustra”, ressaltou a psicóloga.

Sobre se sentir inferior, Joana conta que durante o casamento o parceiro a fazia se sentir inútil. “Como a gente tinha um estabelecimento e trabalhávamos juntos, era comum ele me diminuir na frente dos funcionários e dizer que eu não fazia nada certo. Eu me sentia humilhada, mas para evitar brigas eu me calava e aceitava”.

Outra característica do narcisismo, apontado pela psicóloga, é a inveja. De acordo com Tomazetti, o narciso não aceita que outras pessoas do seu ciclo social e familiar se destaquem mais do que ele.

“Quando alguém começa a superar um narcisista, seja financeiramente ou em qualquer outra área, terá a imagem denegrida pelo narciso, porque ele não consegue suportar que outra pessoa receba mais aplausos do que ele”, explica a psicóloga.

Bruna Tomazetti relata também que outra característica do narcisismo é que o narcisista sempre ter razão. De acordo com ela, narcisistas dificilmente assumem que estão errados e, em alguns severos, usam as pessoas para benefício próprio.

“Depois de quatro anos divorciada, eu percebo que ele usou a família que criamos para ter crescer profissionalmente e ter uma visibilidade maior no nosso grupo social e religioso. As pessoas da nossa igreja o admiravam, como sendo um bom pai e um bom marido. Ele dava cursos e palestras para outros casais”, relembra Joana.

A psicóloga detalha também que na maioria dos casos é recomendado se afastar ou diminuir a convivência com pessoas narcisistas. “Se relacionar com um narciso requer um preço alto e a pessoa precisa se conhecer para saber se tem emocional suficiente para lidar com uma pessoa com esse transtorno”, conta Bruna.

Para a maquiadora, após descobrir que o marido era um narciso com a ajuda de uma psicóloga, ela precisou de mais cinco anos para compreender que ele não mudaria e enfim romper com o casamento. “Foram 15 anos de traições, mentiras, manipulações, choros falsos e isso quase custou a minha vida”, desabafa Joana.

A psicóloga explica que não existe remédio para esse transtorno de personalidade, apenas treinos de habilidades sociais, caso o paciente reconheça que precisa de ajuda. “Existem pessoas narcisistas que procuram atendimento psicológico para aprenderem como viver em sociedade”, afirma Bruna Tomazetti.

Segundo ela, nesses casos, o profissional atua auxiliando o narcisista a estabelecer limites, se auto perceber e realizar regulação emocional. “Na maioria dos casos, o narciso só busca pela terapia quando perde seus ‘fãs’, ou seja, quando ele não tem mais ninguém que o aplauda”. (Texto e fotos: Marinalva Sampaio)

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