Entrevista: Endocrinologista Elionai Ítalo -Diabéticos podem levar vida normal

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De acordo com o endocrinologista Elionai Ítalo Araújo Ferreira, quem sofre de diabetes, seja do Tipo1 ou do Tipo 2, pode levar uma vida normal. Desde que tenha alimentação saudável, pratique exercícios físicos regularmente e, principalmente, siga à risca as orientações médicas, não esquecendo de tomar os remédios recomendados, nas doses e horários prescritos e, sobretudo, não abandone o tratamento quando acreditar que “já está bem melhor”. Em entrevista exclusiva ao Jornal A Saúde, o Dr. Elionai Ferreira fala amplamente sobre a diabetes esclarece dúvidas acerca dessa doença. Leia, a seguir, na íntegra a entrevista:

A Saúde – O que é a diabetes?

Dr. Elionai Ítalo Araújo Ferreira – Diabetes é um estado em que ocorre uma hiperglicemia. Ou seja, a glicose em quantidade acima de 116 decigramas por decilitro de sangue. A glicose é importante para o nosso corpo porque é a nossa fonte de energia. E quem faz o controle da glicose é a nossa insulina, que controla a nossa glicemia intracelular. Então, ela traz o açúcar do sangue para dentro das células. Quem produz a insulina é pâncreas, por meio das células beta.

AS – Quais os tratamentos para a diabetes?

Dr. Elionai – O tratamento é variado, dependendo do tipo da diabetes. As mais comuns são do Tipo 1 e Tipo 2. No Tipo 1 há uma deficiência, ou não, produção de insulina pelas células beta. Já a do Tipo 2 é a adquirida, atinge pessoas de mais idade, que têm uma dieta irregular e são sedentárias. Isso facilita para que a pessoa desenvolva uma diabetes Tipo 2. E tem a Lada (Latente Autoimune do Adulto), que é um Tipo 2 que, posteriormente, se transforma quase em Tipo 1, em que as células autoimunes vão acabar destruindo as células beta, fazendo com que esse paciente também use insulina. O Tipo 1 é o que usa insulina, o Tipo 2 é o que usa antiglicemiantes orais e, às vezes, também podem usar insulina. Existe ainda a diabetes gestacional, que seria o quarto tipo, nas gestantes com sobrepeso, com ovários policísticos, com histórico familiar, que podem desenvolver a diabetes gestacional. Essa diabetes leva ao risco de um parto prematuro e complicações durante a gravidez. É uma paciente de alto risco a gestante diabética.

AS – Quando é necessário usar a insulina?

Dr. Elionai – Por opção é a Tipo 1, como dissemos antes. A Tipo 2 pode evoluir e, com o tempo, o paciente poder ter necessidade de usar a insulina. Os antiglicemiantes orais não conseguem o resultado esperado e, às vezes, temos de acrescentar a insulina no tratamento para ter um melhor controle. Lembrando que as complicações dela são graves. Primeiramente, causa insuficiência renal, a glicemia acima de 180 já tem lesão glomerular, depois disso aumenta o risco de doenças cardiovasculares e de terminações nervosas, causando neuropatias periféricas, trazendo alto risco de infarto, de AVC (acidente vascular cerebral) e doenças oculares, pois predispõe a males como glaucoma, catarata, além de lesão de retina. Além disso, pode levar a pessoa a fazer diálise. Na insuficiência renal crônica tem de fazer diálise para ter uma sobrevida.

 

AS – Então, para controlar a diabetes, a pessoa tem de ter boa alimentação e faze exercícios físicos?

Dr. Elionai – Então, a alimentação é de fundamental importância junto com a atividade física. O excesso de açúcar traz muito prejuízo para a saúde do brasileiro. É um produto muito utilizado, na nossa região ingere-se muito açúcar, em café, em sucos etc. Essa grande ingestão de açúcar faz com que ocorra o aumento da resistência insulínica, que é aumentar a insulina para poder controlar o açúcar no corpo. Isso leva a uma diabetes Tipo 2.

AS – Como é feito o controle da diabetes?

Dr. Elionai – Primeiramente, a pessoa vai ter de mudar o hábito alimentar, passar a ingerir pouco açúcar, pouco carboidrato. O ideal é sempre procurar um especialista, um endocrinologista, para poder fazer essa prescrição mais adequada possível para cada paciente, pois cada um é diferente do outro. Mesmo sabendo os tipos de diabetes, temos as comorbidades, que são os problemas renais, vasculares e oculares, os mais comuns. E nós temos também de abranger essa área para poder prescrever um medicamento que não prejudique o paciente, porque cada caso é um caso.

 

AS – Que riscos o diabético corre ao praticar a automedicação?

 

Dr. Elionai – Veja só, não só no Pará, mas na região Norte toda os pacientes têm essa cultura do uso de ervas e raízes para tratamento. Mas, alguns desses recursos não têm comprovação científica. A maioria faz parte do folclore do local, onde se usa esse tipo de tratamento para evitar o medicamento. O consenso, porém, diz que é para usar o medicamento. Eu oriento os meus pacientes a, mantendo o medicamento, podem até usar o produto que acreditam que funciona, mas, se não tem nada comprovado cientificamente, a gente não pode orientar o paciente a fazer o consumo. Esse é o perigo. Ele faz a automedicação com essas ervas, mas ninguém sabe que complicações podem causar.

 

AS – Como é realizado o diagnóstico de diabetes?

 

Dr. Elionai – Primeiramente, é sintomático no paciente Tipo 1, ele vai ter uma poliúria, vai urinar demais, vai ingerir muito líquido, ter perda de peso e  sentir muita fome. Esses sinais aparecem mais em jovens. O Tipo 2 já atinge aqueles pacientes acima de 40 anos, obesos, hipertensos, que têm uma qualidade devida sedentária e ruim em relação à questão alimentar. Ele também vai ter sintomas semelhantes, mas, no Tipo 2, de fato é a obesidade um dos principais fatores de desenvolvimento do diabetes. Além, dos sintomas, o diagnóstico do diabetes é laboratorial, quando o resultado aponta hemoglobina glicada acima de 6,5; glicemia em jejum acima de 126. Então já se pode classificar como diabetes esses resultados de dois exames com o mesmo valor; e pós-prandial acima de 200, que seria, duas horas após a comida, a glicose estaria acima de 200 confirmando a diabetes.

 

AS – A diabetes não tem cura, mas o diabético pode levar uma vida normal?

 

Dr. Elionai – Sim, mas ele tem de se conscientizar de que o tratamento é para a vida toda. Às vezes ele mede a glicemia, está num nível bom e ele acredita que já está liberado do tratamento. Não é assim, a diabetes não tem cura. Hoje o governo federal está liberando uma cirurgia para a qual alguns pacientes são indicados, mas nem todos terão acesso a esse tipo de procedimento, que é destinado ao diabético do Tipo 2.

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