Violência doméstica: Entenda os traumas e doenças psicológicas por trás

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A violência doméstica inflou delegacias por todo Brasil em 2020, devido ao isolamento domiciliar que tornou a barbárie propícia, resultando em 497 mulheres mortas desde o começo da pandemia. Foi um feminicídio a cada nove horas entre março e agosto de 2020, com uma média de três mortes por dia e as sobreviventes carregam traumas e doenças psicológicas preocupantes para especialistas.

Os dados são do segundo monitoramento Um Vírus e Duas Guerras, feito por parceria entre sete veículos de jornalismo independente, que visa monitorar a evolução da violência contra a mulher durante a pandemia.

Ansiedade, síndrome do pânico, depressão e até mesmo suicídio são consequências que afligem as mulheres vítimas dessa violência, conforme aponta a psicóloga, Samira Mahmud. Além disso, os agressores – na maioria das vezes, companheiros das vítimas – são pessoas mentalmente adoecidas, que carregam dentro de si algum trauma que os levou a esse comportamento.

Samira explica que as mulheres entram em relacionamentos violentos por diversos fatores, mas, o mais comum é a normalização desse tipo de relação. Muitas vezes, elas crescem assistindo o pai tratando a mãe dessa maneira e acabam adotando como modelo.

“É possível que essas mulheres possuam uma autoestima baixa, desde antes de conhecer o companheiro. Por conta disso, elas acabam aceitando essa condição opressora facilmente”, acrescenta Samira.

E os tipos de violências são diversas, indo desde um comentário que a diminui até os tapas e socos. Há casos, conforme a psicóloga, que a única saída é o suicídio. “A mulher não consegue se livrar do companheiro. Então, ela aguenta a violência até que os filhos se tornem independentes e depois disso, tira a própria vida”, cita.

Aquelas que conseguem escapar do agressor, ficam com traumas eternos, que podem ser tratados com ajuda de especialistas que indicaram terapias e medicamentos para ajudar. “Se a vítima não se tratar, ela nunca mais vai conseguir confiar em um companheiro novamente. Ou, ela pode acabar entrando em outra relação abusiva”, adverte Samira.

A psicóloga, que trata pacientes que sofreram esse tipo de violência, diz que essas vítimas, sabem que estão sendo vítimas. “Hoje existe um movimento social engajado em combater essa violência, instruindo onde procurar ajuda e apoio”, diz.

E Samira ainda encoraja, “toda mulher é capaz de sair dessa situação. Se damos conta de parir nossos filhos, criar eles e fazer tantas coisas mais, também somos capazes de nos proteger e não nos permitir passar por essas situações”.

Vale lembrar que os homens violentos também possuem traumas, que podem ser a razão de terem esse comportamento. Os casos mais comuns, também são de traumas gerados ainda na infância. “Um menino que cresceu vendo o pai sendo violento pode se tornar um. Ou não. Ele pode preferir ser diferente”, diz Samira.

Aqueles que se tornam violentos, atingem graus diferentes, podendo cometer agressões verbais ou chegar ao ponto de assassinar mulheres. No caso mais grave, ele se torna um sociopata.

O primeiro passo para tratar o homem violento é convencê-lo de que está doente. O que não é fácil, pois, essa observação deve partir dele mesmo. Depois disso, deve começar um tratamento com profissionais da saúde, realizando terapias e fazendo uso de medicamentos.

Samira avalia que talvez o tratamento não cure o homem violento, por ser um problema muito voltado a personalidade, porém, há casos que têm solução. “Já tive pacientes que foram encaminhados para tratamento com psiquiatras, fizeram uso de medicamentos e melhoraram”, revela.

As mulheres que são vítimas e ainda persistem na relação violenta, podem buscar ajuda denunciando o caso nas delegacias especializadas. Em Marabá, ela está localizada no Bairro Amapá. Ou podem ligar no 180, que é a Central de Atendimento à Mulher.

Além disso, o município conta com a Patrulha Maria da Penha da Guarda Municipal de Marabá. Atualmente, há 52 vítimas sendo acompanhadas. Em 2020, foram realizados 426 acompanhamentos, com 155 rondas presenciais, 132 por contatos telefônicos e 139 preenchimentos de relatórios.

Mesmo durante a pandemia, os agentes têm atuado, especialmente, devido a explosão no número de casos. Inclusive, a Patrulha age apenas em casos judicializados, mediante medida protetiva de urgência da Lei 11.340 – Lei Maria da Penha expedida pelo judiciário – por isso a importância de denunciar a violência doméstica. (Reportagem – Zeus Bandeira. Fotografia – Reprodução)

 

 

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