TDAH e TEA: Psicóloga explica o que são esses distúrbios

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Tanto o TEA (Transtorno do Espectro Autista) quanto o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) estão classificados pelo DSM-5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), como Transtornos no Neurodesenvolvimento.

Os Transtornos do Neurodesenvolvimento “são um grupo de condições com início no período do desenvolvimento”. Ou seja, se desenvolvem cedo. No caso do TEA, os sintomas podem ser percebidos no primeiro ano de vida. No caso do TDAH, também antes do período escolar, mas com a ida à escola fica mais evidente.

Sobre esses distúrbios, a psicóloga clínica Kênia Freitas, pós-graduada em Terapia Cognitivo-Comportamental, concedeu entrevista ao Jornal A Saúde esclarecendo mitos e verdades.

Segundo a profissional, o indivíduo que possui o TEA tem déficits persistentes na comunicação e na interação social, padrões restritos e repetitivos de comportamento, movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados, como por exemplo: alinhar brinquedos, girar objetos entre outros comportamentos.

Já o TDAH, é um padrão persistente de desatenção e ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento e no desenvolvimento. Ocorre em cerca de 7,2% das crianças no mundo.

A psicóloga cita como algumas características do TDAH o fato da criança ou adolescente não prestar atenção em detalhes ou cometer erros, por descuido, em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades.

“Quem é diagnosticado com TDAH frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas ou deveres no local de trabalho, também tem dificuldade com gerenciamento do tempo”, completa Kênia Freitas, acrescentando que o TEA e o TDAH podem ocorrer juntos; no TEA, o Transtorno de Ansiedade, Depressão e TDAH, são especialmente comuns.

Questionada acerca do aumento de diagnósticos no TEA e TDAH nos últimos anos, a psicóloga detalha que se dá pelo avanço da ciência, que gera profissionais mais habilitados e também pelo trabalho de diversas instituições com a intenção de educar, informar e ainda desmitificar.

Quanto aos fatores de risco do TDAH, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. eles podem ser ambientais, quando o bebê nasce com muito baixo peso e algum grau de prematuridade confere maior risco.

Kênia Freitas frisa também que a exposição do fumo no pré-natal, exposição a neurotoxinas, como chumbo e álcool estão correlacionadas, mesmo não sabendo se essas correlações são causais.

o tratamento do TDAH nem sempre necessita de medicação. “Vai depender de quanto os sintomas afetam a vida do paciente
A psicóloga Kênia Freitas afirma que o tratamento do TDAH nem sempre necessita de medicação: “Vai depender de quanto os sintomas afetam a vida do paciente”

Fatores genéticos e fisiológicos do TDAH

Em relação aos fatores genéticos, estima-se que a herdabilidade do TDAH é de cerca de 74%. Deficiências visuais e auditivas, anormalidades metabólicas e deficiências nutricionais devem ser consideradas influências possíveis sobre os sintomas de TDAH.

Quanto aos fatores ambientais de risco do TEA, de acordo com DSM-5-TR, classifica-se idade avançada dos pais, prematuridade extrema ou exposição intrauterina a certas drogas. E os fatores genéticos, a herdabilidade varia entre 37% a 90%, atualmente, até 15% dos casos parecem estar associados a uma mutação genética.

Incidência de TEA e de TDAH

O TEA é diagnosticado de três e quatro vezes mais frequentemente no sexo masculino. No sexo feminino, o diagnóstico costuma ser mais tardio e tem mais propensão a apresentar transtorno do desenvolvimento intelectual, assim como epilepsia.

O TDAH também é mais frequente no sexo masculino, na proporção de 2 para 1. No sexo feminino, existe a prevalência de apresentarem primeiro características de desatenção na comparação com o sexo masculino.

O TEA afeta significativamente o desenvolvimento social e emocional das crianças, especialmente no caso de suporte 2 e 3. Levando em consideração que o desenvolvimento social perpassa pela habilidade de comunicação, o TEA apresenta déficits na comunicação social verbal e não verbal.

Para quem é diagnosticado com Autismo, o tratamento exige equipe multiprofissional que pode ser composta por profissionais de diversas áreas como: psicopedagogia, psicologia, neurologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e outros não menos importantes. O ABA (Análise do Comportamento Aplicada), que trabalha no reforço dos comportamentos positivos, tem sido uma abordagem bastante utilizada no acompanhamento do TEA.

TEA e TDAH: diagnóstico precoce

Conforme a psicóloga, o tratamento do TDAH nem sempre necessita de medicação. “Vai depender de quanto os sintomas afetam a vida do paciente. Muitos casos são manejados com psicoterapia; outros com medicamentos e psicoterapia. Tanto no TEA quanto no TDAH, o diagnóstico precoce favorece, pois promove intervenções focadas nos sintomas. O diagnóstico não tem a intenção de rotular, mas de traçar caminhos a serem percorridos e isso contribui muito para a qualidade de vida”, sublinha a especialista.

Para ela, o papel da Terapia Comportamental nesses transtornos é oferecer escuta e acolhimento, auxiliar na identificação e manejo das emoções, favorecendo assim as relações sociais. Auxiliar no gerenciamento de tempo, por exemplo em organização de tarefas e atividades. Auxiliar ainda com estratégias para melhor atenção e foco, diminuir procrastinação.

A psicóloga salienta que professores e escolas podem ajudar e ajudam muito. Boa parte dos diagnósticos vem após os relatos dos professores, sendo a observação dos profissionais essencial.

“A inclusão é uma tarefa de toda a sociedade, dos cuidadores até dos governantes. Precisamos de mais políticas públicas voltadas a esse público; muitas famílias não conseguem ter acesso a todas as terapias necessárias, quando conseguem são muitas vezes bastante espaçadas”, opina a profissional de saúde.

Conheça os suportes do Autismo

Nem toda pessoa com TEA tem dificuldade severa com a comunicação, isso é variado de acordo com os três níveis de suporte: suporte 1, suporte 2, suporte 3.

No suporte 1, na ausência de apoio existe déficits na comunicação causando prejuízos notáveis.

No suporte 2, mesmo com apoio, existe déficits graves na comunicação.

No suporte 3, os déficits na comunicação são considerados graves, grande limitação em dar início a interação social e resposta mínima a abertura social.

Controle sobre uso de telas é um desafio     

“TDAH, não é falta de disciplina nem excesso de energia, é um Transtorno do Neurodesenvolvimento”, adverte Kênia Freitas, avaliando que o uso excessivo de telas é muito prejudicial para todas as crianças e adultos, independentemente de terem ou não diagnósticos. É um desafio manter o uso de telas sob controle, mas é algo que não podemos descuidar.

Como conselho, ela orienta os pais a buscarem suporte psicológico. Os que fazem isso, tendem a lidar melhor com os sinais e sintomas dos transtornos dos filhos. Outro fator que ajuda muito é ter uma rede de apoio consolidada, embora em muitas famílias não seja possível.

“É preciso cuidar de quem cuida, logo, os pais e ou cuidadores necessitam de cuidados. Não é incomum encontrar pais, especialmente mães sobrecarregadas”, salienta ela.

Se for possível, o ideal é que os cuidadores busquem suporte profissional também para si. Um espaço em que possam ser acolhidos e compreendidos em suas angústias, desafios e medos. “Participar de grupos de pais e cuidadores de crianças atípicas costuma ser uma boa alternativa para trocar experiências e proporcionar acolhimento mútuo e interação social não só para os pais, mas também para os filhos”, orienta a psicóloga.

*A psicóloga clínica Kênia Monteiro de Freitas atende desde 2021, com pacientes no Brasil, América do Norte, Europa, Ásia e Oceania. Instagram: @kenia.psikoterapia. (Texto: Valéria Coelho)

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